A pandemia me pegou de jeito desde o ano passado. Passei por todas as fases do luto:
- Negação a respeito de que não saberíamos quanto tempo duraria, acreditando que seriam realmente “quarenta dias” de quarentena.
- Raiva pelo descaso das pessoas e pela falta de um plano de conscientização real.
- Depressão quando pensei em todos os convites que declinei e o quanto eu adorava falar que era “super caseira” quando, na verdade, eu gosto é de bar com cerveja gelada na calçada.
- Barganha, quando comecei a fazer promessas exageradas e o famoso “se isso acontecer eu começo a fazer tal coisa”.
- Aceitação foi onde cheguei e onde não pretendo sair. A aceitação se deu pelo cansaço, mas também pela falta de perspectiva – se você é brasileiro, consegue compreender o que falo. Aceito que devo ficar em casa o máximo possível e, felizmente, eu posso. Aceito que vou ver minha família e meus amigos por ligação de vídeo e que áudios do whatsapp não são tão ruins assim. Aceitar não significa deixar de se indignar, mas colocar sua indignação no lugar certo.
Vi pais e avós de amigos morrendo de um dia para o outro. Passei sufoco com amigos bem próximos testando positivo mesmo sem saírem de casa além do básico. Me vi paranoica em diversos momentos, principalmente indo às compras. Tudo isso culminou em um processo de depressão que me levou a um pequeno colapso.
E aí o ano virou. Eu sei que entre o dia 31 e 1 não tem absolutamente nada de anormal, são dias com 24 horas, mas é inegável como a virada simbólica carrega uma carga de otimismo e esperança. Eu não queria ignorar isso dessa vez – já passei da fase de me sentir moralmente superior por acreditar, ou desacreditar, de algo – e resolvi que aproveitaria esses 365 de novas oportunidades de um jeito diferente: fazendo o melhor que dá no cenário que eu tenho.
Resolvi que é um bom momento para celebrar pequenas alegrias – o cheirinho de desinfetante no quarto, a caça à cigarra quando elas sobem até o 19° andar, conversar com as plantas e ver que elas estão crescendo, lavar a louça assistindo vídeo de famosos soltando pum sem querer, fazer exercícios de manhã logo cedinho e ir dormir acompanhada de um livro. Tudo isso pontado pela gratidão de ter ao meu lado um companheiro que ri, que conversa com as plantas junto comigo e com quem posso celebrar conquistas – minhas e dele – sejam elas quais forem.
Ouço forró e pop, danço mentalmente o dia inteiro. Lembro de uma música que eu gosto e treino um pouquinho no violão. Foco nas atividades do trabalho e me dedico aos momentos de aprendizado. Criei rotinas da manhã e da noite que me dão uma sensação de “dever cumprido”, aquela que o nosso cérebro interpreta liberando dopamina e deixando a gente mais tranquilo.
Afinal, é como diz essa dashboard no meu planner: amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.
Foto por Rowan Heuvel no Unsplash
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