Adoro comida. Acho que poucas coisas me deixam mais feliz do que cozinhar e comer, mesmo que essas coisas nem sempre venham juntas. Amo descobrir receitas novas e fazer aquela comida de dia a dia de casa: arroz, feijão, farinha e mistura. Amo desde pequena, quando minha mãe preparava coisas gostosas e dava um jeito nas coisas que eu não gostava de comer – porque, sim, a maior parte da minha vida foi de um tal paladar infantil que sentir o cheiro ou tentar comer algumas coisas resultava em ânsia e enjoo instantâneo. Desperdicei muitas horas de sono e pratos montados pela minha mãe por essa palhaçada e, claro, me arrependo.
Primeiro porque minha relação com a comida não é boa. Segundo porque minha relação com o luto pela minha mãe também não é. Horas e horas e horas e muitos reais gastos em terapia me mostraram que há uma relação entre essas duas coisas e que, bom, eu preciso melhorar isso – aqui falamos também de saúde, já que há um histórico aterrorizante de doenças do coração, diabetes e afins na minha família. O tipo de coisa da qual você só se dá conta que precisa se preocupar aos 30 e poucos quando sua pressão, que sempre foi baixa, começa a se mostrar acima do normal.
Minha relação com a comida acaba tendo uma relação direta com meu corpo. Quando me vejo comendo muito, desenfreadamente, me vejo também como alguém que não sou. Eu olho no espelho e não reconheço minhas pernas, meus braços e tenho um episódio muito estranho de dismorfia com minha mão esquerda – ela está aqui, mas meu cérebro desassocia ela de mim. É esquisito, mas eu meio que me acostumei. Às vezes é bem esquisito, mas eu realmente tento não pensar nisso tanto assim…
O ponto é que a pandemia me fez enlouquecer com comida de novo. Todo dia eu sou indulgente porque estou no meio de uma crise sanitária e morando no Brasil, o que já é motivo mais do que suficiente pra comemorar por sobreviver mais um dia. Só que esse tipo de conduta faz com que eu me sinta culpada, já que minha saúde deu sinais de que não está boa, e aí fico pensando que a qualquer momento meu coração vai parar e vou morrer e não viajei tudo o que eu queria, não li o suficiente, não vi filmes e séries o suficiente e que minha vida tem se resumido a ver vídeos repetitivos no tiktok. E isso também me leva a olhar pra mim mesma no espelho e falar pra pessoa que eu não reconheço do outro lado: “francamente”.
Pensando nisso, acho que vou voltar a fazer a marmita da semana toda – almoço e janta. Vamos fazer o primeiro teste na sexta. Pensar no que eu quero comer, preparar tudo, deixar na geladeira. Primeiro que parar e pensar “o que vou comer” não será mais um problema, já que a comida estará pronta. O fato de ser a comida que eu faço e amo dá ainda mais pontos positivos pra essa ideia. E eu espero que isso faça com que os momentos de indulgência, como comer pizza da ki-saborosa ou x-salada do Seu Oswaldo no fim de semana sejam algo especial, como devem ser, afinal, é exatamente o que essas comidas são pra mim: especiais.
Acho que esse primeiro movimento pode me ajudar pelo menos a pensar menos no assunto. O próximo passo, que é voltar a fazer exercícios, também é outro que me deixa um bocado ansiosa, mas por outros motivos. O ponto de todo esse texto é: eu preciso fazer algo a respeito da minha saúde porque o que tem me prejudicado ultimamente é comer de maneira não saudável. E isso, olha só que legal, eu posso e consigo controlar, basta fazer.
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