Eu lembro da primeira vez que comecei a ler “A Amiga Genial”, primeiro livro da tetralogia napolitana, e como não bateu. Acho que não era o momento de embarcar na história de uma vida inteira e acabei devorando os livros alguns anos depois, acabou que eles se tornaram livros queridos.
Então aconteceu novamente: eu não senti a conexão com esse livro. A protagonista ora estoica, ora supérflua, me joga na cara uma realidade que não é a minha, com anseios que são pelo menos um oceano longe dos meus.
Elena Ferrante traz uma ambientação daquelas que você consegue dizer exatamente como é o local sem nunca ter estado lá e não há necessidade, mesmo, porque ela deixa claro que tudo é muito bonito apenas no livro – ela já tinha usado esse artifício no segundo volume da tetralogia. Também há uma identificação fácil dos personagens e, novamente, um deboche em relação aos costumes locais, ao mesmo tempo que uma defesa ferrenha dos regionalismos – os napolitanos, os dialetos carregados e os trejeitos jocosos.
A história gira em torno de uma mulher de 40 e tantos anos em férias para descansar depois que suas duas filhas saíram de casa. A mãe começa, então, a observar as outras pessoas naquele pedaço de litoral e nota uma jovem com sua filha. Essa atenção lhe traz memórias e reascende seus questionamentos em torno da maternidade, da doação ao outro, do amor e da liberdade.
Assim como na Tetralogia, Elena Ferrante faz a gente lamber ferida pra ver se para de sangrar. Ela tem essa “coisa” de jogar na cara, um tabefe e um carinho, e faz isso falando da cidadezinha, da praia, da feira, o que te faz pensar que aquele momento insólito é, na verdade, uma epifania.
Falo dando essas voltas porque não quero dar spoiler, especialmente porque há também um filme para assistir. Mas é, como a tetralogia, minha única referência de leitura anterior da autora, muito bom, muito cadenciado e muito poético, às vezes de um jeito que esmaga seu fígado. Ainda assim, mesmo com toda essa admiração, não consegui me conectar totalmente com a protagonista ou com qualquer outro personagem. Talvez, apenas talvez, tenha sido melhor assim.
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