Eu e minha prima querida resolvemos ter um clube do livro. Ler foi algo que nos uniu na adolescência e é um amor que compartilhamos com nossas mães – eu agradeço todos os dias por essa paixão pelos livros que minha mãe me deixou. Ainda que eu goste mais de romances e de livros de fantasia, resolvi me aventurar a ler algo com alguém, que foi uma coisa que nunca fiz. Já dividi livros com meu companheiro – eu li primeiro e ele leu depois – mas assim, cada um lê e depois a gente troca, é a primeira vez.
Começamos por Kindred, da Octavia E. Butler, traduzido por Carolina Caires Coelho, que saiu em 2019 pela Editora Morro Branco. O livro de ficção, lançado em 1979, foi nosso primeiro título. Discordamos em alguns pontos – eu gosto do final e do surrealismo geral da obra, enquanto me deixou um pouco de bode o começo afobado. Já minha prima não gostou da “barriga” que a escritora coloca no meio do livro, um recurso que da própria que eu conhecia por ter lido anteriormente os livros “Semente originária” e “Elos da mente”. Mesmo assim, foi tão legal ter com quem discutir uma obra, trocar impressões e sentimentos durante a leitura, a experiência foi esticada por mais tempo – para além de ler o livro, fazer a troca de informações.
O segundo livro foi “Se deus me chamar não vou”, da Mariana Salomão Carrara pela Editora Nós, formato ebook. Uma leitura rápida e gostosa, bem dinâmica, numa linguagem super acessível – e eu adoro como a autora transformou temas pesados em algo leve na visão de uma adolescente. Minha prima adorou e eu também. Mas algumas coisas me incomodaram e, muito provavelmente, porque eu tenho referências diferentes – o que me chamou atenção foi uma semelhança, talvez uma referência, a série My Mad Fat Diary (E4 Channel – 2013/2015). Também achei – e essa é 100% uma visão contaminada minha – que em alguns momentos parecia que eu estava lendo um perfil no instagram de frases de efeito. Isso me incomodou bastante, mas tenho certeza que é porque eu tenho abominado cada dia mais esse tipo de perfil e eles continuam me perseguindo – odeio obviedades com fontes moderninhas. Por outro lado, acho que essa escrita mezzo poética e mezzo narrativa é muito gostosa, deixa a leitura com aquele misto de emoções – você ri um pouco da situação e dali a pouco chora querendo guardar a protagonista num potinho. Não consegui me conectar com os outros personagens, mas acho que isso foi bem de propósito, para que a importância naquele livro fosse todo focado na protagonista e os outros orbitassem em volta dela.
O nosso próximo livro será Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, que saiu pela Penguin, edição Ebook. O livro tem uma importância histórica, escrito pela primeira escritora romancista negra brasileira, e esse é o primeiro romance abolicionista publicado no Brasil.
Acho que para além da leitura, tenho gostado muito da troca. É muito mais legal ler quando tenho alguém com quem conversar sobre a leitura. Um clube do livro mesmo, em que falamos sobre como nos sentimos, o que nós percebemos e como aquele livro bateu pra gente. É só que, como mães cansadas, o clube do livro é de duas pessoas só 🙂
Foto de Robert Anasch na Unsplash
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