Há dias uma ansiedade me consumia. Era a segunda dose da vacina chegando, um fio de esperança em meio a uma nova variante, delírio coletivo de abertura comercial e, claro, a vontade de que a vida volte ao normal. Spoiler: não vai voltar.
Entre vacinas, trabalho, curso e uma vida deveras desmotivada, eu percebi que tenho me esquecido de mim. Já falei e repeti isso muitas vezes, mas agora notei que o esquecimento é diferente: eu não sei quem sou. Parece que tudo o que constrói minha identidade foi baseado em outras pessoas – as músicas que gosto, os meus livros favoritos e até o que escrevo parece ter sido roubado de alguém. Uma esponja de gostos e emoções alheias, é como me sinto às vezes…
É que eu não sou uma pessoa emocionada como pareço. Ou eu sou para algumas poucas coisas? Não sei.
Bom, eu preciso de uma retomada. E de rotina de sono, de curso, de exercícios, de leitura. Eu sei, a falsa sensação de controle. Ela mesma, mas dentro de uma pandemia chega a ser prazeroso controlar pequenos aspectos da vida cotidiana quando se vê que o resto do mundo está descontrolado. Um pouco de disciplina no meio do caos? Acho que posso chamar assim. O problema é que o mundo está nadando nesse cataclismo e eu deixo minha vida fazer a mesma coisa – falo de controle, rotina e disciplina, eu sei que é isso que poderia me trazer pelo menos um pouco de calma, mas não aplico. Aliás, eu não aplico nada, o conhecimento na minha cabeça parece estar aqui apenas pra ocupar espaço…
E o restante do espaço eu preencho com comida, cultura pop e pensamentos dissonantes, um ruído insuportável que me lembra do meu tempo perdido, do meu tempo ruim, do meu tempo passado… Eu queria ser daquelas pessoas que deixa pra lá, mas me pego remoendo uma conversa de 1998 na escola. Por que? Nada vai mudar. Eu nem sei se aquelas pessoas ainda existem, porque tenho uma memória tão poderosa pra lembrar do que foi ruim e não de celebrar o que é bom hoje, agora, nesse momento? Minha vida é ótima e, por sentir que não mereço essa vida, deixo de curtir.
O que eu posso fazer pra mudar isso?
Clayci Oliveira
Eu já começo fazendo uma confissão, que nem é tão secreta assim: sou muito rancorosa.
Tenho a consciência de que isso não me faz bem e tenho trabalhado isso diariamente.. seja em terapia, me policiando.. mas taí, é algo que eu sei que não vai mudar.
E consegui me identificar muito com seu post
Carol Mancini
Eu também trato, Clayci… E não é fácil deixar de fazer isso, acho que tá dentro daquelas nuances de coisas que a gente sente e meio que se sente culpado por sentir, em vez de deixar passar, sabe? Rancor, mágoa, inveja, raiva, pra mim esses sentimentos se enquadram nessa categoria…