Estou com algo que pode ser tendinite, túnel do carpo ou o pulso aberto. São semanas com pontadinhas de dor e sem força nenhuma na mão esquerda, o que me rendeu um corte na mão direita, dois copos quebrados e uma queimadura pequetita no antebraço. Eu, definitivamente, sou um perigo para a minha saúde.
Venho pensando muito em um jogo que chama Stardew Valley. Nele, você sai de uma rotina infeliz numa grande corporação e assume a herança de seu avô: uma fazenda meio caindo aos pedaços. Entre falar com os moradores da cidadezinha – que, por vezes, parecem absolutamente entediados com a vida no meio do mato – e cuidar do seu espaço com limpeza, plantações e animais, você se vê imerso em um mundo onde a vida é… simples.
Já caí em ciladas de vida e pessoas simples. A verdade é que ninguém é simples. Há um oceano de emoções e histórias que não conseguimos enxergar da superfície. Pessoas são como icebergs e achar que conhece alguém é o mesmo que ser o Titanic. As pessoas sempre podem nos surpreender, não importa o tamanho da nossa bagagem e da fortaleza que construímos para nós. Stardew Valley é sobre isso também. Conforme vai conhecendo as pessoas, vê que o cara rabugento na verdade sofre com abandono e que a garota popular tem uma visão artística, quem diria. É um bom passatempo e escape de realidade, mas é um jogo que também te lembra da importância de viver as coisas simples – o cheiro do café de manhã, inventar uma nova receita, construir uma horta em apartamento e até aprender um novo hobby.
Eis que resolvi fazer crochê. Muito incentivada pela Tati que mostrou coisas lindas que ela fez, me deu vontade de tentar fazer mais do que as bolsinhas porta-moedas com lacre de latas que foram moda no final dos anos 90, quando eu insisti até que minha mãe me ensinasse a fazer crochê – e, a bem da verdade, eu nunca aprendi direito, eu foquei única e exclusivamente naquilo que me servia. Fiz o mesmo com o bordado, o ponto cruz e tricô eu nunca tive coordenação motora. Eu nunca treinei nada e a verdade é que o ser humano é mecânico e precisa de treino para fazer tudo, talento é legal, mas é uma engrenagem que enferruja se você não usar, como todas as outras.
Fiz um jogo de sousplat para minha sogra e agora vou fazer um jogo americano lá para casa. As linhas são meio caras, dependendo da qualidade, mas já fui salvando projetinhos e vídeo-aulas. Incrível como o vídeo agora te ensina a fazer tudo. Qualquer coisa que você precisar, tem no Youtube ensinando a fazer. E, apesar do pulso reclamar, esse desenvolvimento mecânico tem me ajudado a pensar, a me distrair sem ficar horas e horas presa no celular e a me concentrar. A atenção plena que eu falei em algum momento por aqui, sabe?
Atenção plena nas pequenas coisas. Os micromomentos que fazem a vida da gente ser tão grandiosa.
Photo by Jelle van Leest on Unsplash
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