Eu assino uma porção de newsletters. Adoro receber o conteúdo por e-mail assim como também gosto e mantenho sempre visualizado o meu leitor de feeds. Eu tenho um blog. Eu sou, dizem por aí, um dinossauro da internet.
Essa semana pelo menos 3 das minhas newsletters favoritas falavam de tempo, alienação e excessos.
E resolvi fazer esse texto porque fiz uma movimentação na minha vida pensando justamente nisso. Uma não, foi um conjunto de mudanças para melhorar minha vida.
Eu sou viciada em redes sociais desde que elas começaram. Em 2004 eu fui uma das primeiras pessoas da escola a ter e mexer no orkut o dia inteiro, tive inúmeros blogs, e quando a coisa virou Facebook, Twitter e tudo o mais, eu estava lá. Early adopter, que chamam por aí.
Desde o começo a internet me despertou ansiedade. Eu lembro, quando estava ali na adolescência, de como eu precisava parecer legal no bate papo UOL e no meu blog, do quanto eu precisava de uma foto muito bem pensada no fotolog, de como as pessoas iriam me ver. Eu queria manter a imagem que eu tinha montado de mim mesma na escola e em casa: a menina inteligente demais.
Claro que isso – e tantos outros desvios de personalidade que nada tem a ver comigo – não se sustentaram. Eu acabei caindo numa armadilha de liberdade. E nessa armadilha, eu vivi coisas que prefiro nem lembrar, mas também conheci um monte de gente incrível e me reergui. Aquelas coisas de filme.
Porém, eu continuei viciada. Se antes eu era viciada na exposição, nos comentários, likes e em aparecer, agora eu sou viciada em consumir o que os outros falam, fazem e são na internet. Não apenas influenciadores, mas notícias, política, amigos, um monte de publicidade, um monte de conteúdo que não melhora em nada a minha vida. Diferente das newsletters e dos feeds milimetricamente escolhidos em cima do que eu quero realmente ler, porque geralmente são textos maiores e que demandam mais tempo, o consumo instantâneo da rede social, rolar o feed interminavelmente, me faz perder tempo e não há nada marcante. Nada que agregue de verdade.
Eu já vinha com essas ideias na cabeça até o momento que passei em uma nutricionista comportamental. Diferente de outros profissionais da área, ela me pediu duas coisas bem simples: quando for comer, não ter celular ou televisão ligados, comer em silêncio e prestando atenção na comida. A outra coisa foi consumir iogurte duas vezes ao dia.
Nos primeiros dias eu fiquei bem ansiosa em não ter a distração ali do lado, mas agora me acostumei. O café da manhã que durava uma hora ou mais, com meu marido em um celular e eu no outro, virou 15 minutos e o tempo “de sobra” combinamos de converter em cuidados com a casa. Eu ganhei tempo e percebi que uma xícara e meia de café é suficiente para acordar, que o pão de maçã e nozes é muito mais gostoso do que o de castanhas e que eu odeio algumas marcas de requeijão. Eu comecei a mudar a maneira que eu como apenas prestando atenção na comida. Boom. Epifania.
Tudo na vida dá pra colocar dessa mesma maneira. Escrever, ler, trabalhar, dormir, cuidar do cabelo e da pele. Tudo isso pode ser melhorado se não for feito por osmose e sim com atenção. Até as formas de alienação – como ver uma série ou um filme – podem entrar nessa pegada. Se você prestar muita atenção de verdade em um episódio de série, você vai ver apenas um e não 5 de uma vez.
Esse é o exercício: dar atenção. Confesso que só de escrever eu fico ansiosa de novo. Como eu vou deixar o celular longe de mim? Como eu não vou acessar o twitter, e se acontecer algo que eu não vou saber? (Como se a “rádio peão” do whatsapp não fosse me informar)
Acho que outra coisa que pegou forte esses dias foi o sono de covid. Tive covid. Sim, aconteceu, foi uma variante bem rápida e eu não fiquei mal. Mas eu tive muito sono e, mesmo negativa, sigo com sono. E agora eu quero arrumar tempo para tirar sonecas ao longo do dia, porque sinto que eu não vou conseguir me mexer se não me apoiar por meia hora e ter um soninho reparador. Tentei substituir em vão pelo café. Não funciona pra mim, preciso dos 20 minutos que antes seriam malvados – se dormisse a tarde não dormiria a noite. Agora eu durmo em qualquer ocasião. Eu acho estranho e lindo, já que dormir sempre foi uma questão para mim.
De qualquer maneira, agora eu quero descansar. Terminar de me recuperar da covid, descansar, ter tempo para mim. Cuidar da casa, da minha cara e do meu corpo sem precisar de validação externa. E parar de me deixar levar pelo consumo da vida dos outros, da opinião política dos outros, da inércia dos outros que vira a minha também.
Presos nas telas que tem toda a informação do mundo.
Nós já fomos dominados pela tecnologia.
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Jeniffer Geraldine
Adorei o texto e super me identifico. Esta semana mesmo conversava com uns amigos que estava cansada do formato do instagram. Não sei se você já percebeu mas tem rolado MUITO post patrocinado. E são aqueles posts de carrossel com umas aulas meio forçadas. Nossa, cansativo demais. Hoje eu olho rápido a timeline, coleto algumas coisas interessantes para ver depois no meu Evernote.
Eu também tive COVID mas foi no ano passado. E o pós-covid foi insuportável. Demorou bastante para voltar a me sentir bem, a pensar direito. Muito estranho. Mas hoje me sinto bem melhor. Me ajudou também fazer check-up. Fui em vários médicos só para ver se estava tudo bem comigo mesmo.
Boa recuperação!
Carol Mancini
Gostei da ideia do checkup, vou atrás! O feed do Instagram está uma piada, não há como acompanhar com a quantidade de publicidade e, pior, tudo de coisas inúteis, que não agregam em nada…